Ana Carolina é biomédica na Uicamp e desenvolveu método inovador de exame de sangue (Antoninho Perri/Unicamp/Divulgação)
publicidade - anuncie aqui

A biomédica Ana Carolina Borges Monteiro, 29, radicada em Itapira desde os cinco anos de idade, foi a responsável pela criação de um método inovador que promete revolucionar o setor de análises clínicas.

Com a utilização da inteligência artificial e processamento digital de imagens, o Hemograma Digital permite a realização de exame de sangue – contagem de hemácias, leucócitos e plaquetas – em apenas cinco segundos, com o emprego de um aparato bem simples de equipamentos.

O desenvolvimento da metodologia aconteceu durante a pesquisa de doutorado na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Basicamente a tese de Ana Carolina, amparada na aplicação da informática na medicina, uniu em um só conceito barateamento de custos, alta precisão de resultado (acurácia) e automação.

O Hemograma Digital implica em redução de tempo e investimento, sem perda de qualidade ou confiabilidade. Pode ser levado a comunidades mais afastadas principalmente em razão da facilidade de manejo – precisa de um aparelho celular, microscópio e computador para funcionar – e representa ainda investimentos menores com a compra de equipamentos.

“O profissional faz a coleta da amostra de sangue, coloca em uma lâmina e espalha com outra em uma técnica chamada esfregaço. Usa os corantes de baixo custo que existem em qualquer laboratório, coloca a lâmina no microscópio e daí começa a inovação da metodologia”, explica a criadora.

Ao invés da contagem visual pelo microscópio, na sequência é feita uma foto da lâmina com uso do smartphone. A imagem é submetida ao computador para o processamento aliado à inteligência artificial. Os algoritmos fazem o reconhecimento e a contagem automática dos três tipos de células (hemácias, plaquetas e leucócitos) em cinco segundos.

Método pode auxiliar nas áreas mais afastadas do país: saúde pública (Arquivo Pessoal)

“O hemograma em si é um exame bem abrangente e ajuda o médico a averiguar se a pessoa está com algum tipo de anemia, se possui algum tipo de infecção e se inclusive está com dengue”, revela Ana Carolina. “Ajuda a fechar o diagnóstico do paciente, mas tudo de uma forma bem mais barata e rápida”, salienta.

  • SAÚDE PÚBLICA

Formada em biomedicina pelo Unifia (Centro Universitário Amparense), de Amparo (SP), desde o período do estágio na reta final da graduação, Ana Carolina já imaginava formas de tornar a saúde pública mais acessível às pessoas.

“Quando a gente se forma na área da saúde, o intuito é sempre contribuir com a sociedade de alguma forma”, reforça. “Muitas questões começaram a surgir pela minha cabeça, ainda mais quando fui fazer estágio no Hospital Municipal de Itapira”, recorda.

Em contato mais íntimo com a realidade do SUS (Sistema Único de Saúde) e a alta tecnologia dos equipamentos de laboratório, a biomédica passou a se questionar sobre as desigualdades sociais que acometem o país. “Itapira é muito bem equipada no quesito saúde, mas existem cidades menores que não contam com receita suficiente para ter um laboratório de análise clínica, principalmente aquelas das regiões mais afastadas”, completa.

Depois de formada, Ana Carolina foi para a Unicamp em busca de respaldo e mais conhecimento para transformar em realidade o projeto inovador. O orientador de mestrado e doutorado, o professor Yuzo Iano, comprou a ideia, incialmente sob a condição do desenvolvimento de algo mais prático sobre o assunto.

Procedimento mais rápido e com menos custos (Arquivo Pessoal)

Para atestar a proposição científica que tinha em mente, ela desenvolveu alguns algoritmos de contagem de células, escreveu artigos científicos e disparou tudo para congressos internacionais. “Em torno de 80% a 90% dos artigos que encaminhei foram aceitos”, lembra.

Com aceitações nos âmbitos nacional e internacional, a proposta foi imediatamente acolhida pela universidade. “Em todo esse tempo que fiquei na Unicamp, passei a desenvolver algoritmos com o processamento digital de imagens. Mais ou menos na metade do doutorado, quando veio a Convid-19, começou a se falar muito em inteligência artificial”, frisa.

Mesmo em casa, por conta das ordens restritivas impostas pela pandemia, Ana Carolina não parou um minuto sequer e se debruçou sobre os estudos de inteligência artificial para desenvolver a nova parte do projeto. “Por fim, na minha tese de doutorado, acabei incorporando as duas partes: processamento digital de imagens e inteligência artificial, e saiu o Hemograma Digital”, comemora. Ela concluiu o doutorado em agosto de 2023 e está empenhada neste momento no pós-doutorado.

Ana Carolina emplacou método inovador na tese de doutorado na Unicamp (Arquivo Pessoal)

O ponto chave agora é fazer com que criação chegue ao mercado de análises clínicas. “Fiz a pesquisa em nível acadêmico, tanto que o trabalho gerou meus títulos de mestre e doutora, e testei com imagens de banco de dados. Agora preciso que alguma empresa, instituição ou hospital me disponibilize amostras de sangue para fazer a testagem dos meus algoritmos no mundo real. E com isso, em seguida, fazer toda parte de regularização para colocar no mercado”, reitera, acrescentando que a metodologia pode ser ainda mais aprimorada.

Um procedimento rápido e mais barato, que necessita de smartphone, microscópio, computador e os insumos associados à coleta de sangue. Um conceito que pode facilmente chegar às áreas mais afastadas menos favorecidas financeiramente.

Print Friendly, PDF & Email
Publicidade - Anuncie aqui