Há quase 15 anos morando no Exterior, com passagens pela França e Irlanda, a itapirense Valeryana Allemund, 36, vivencia de perto o pânico que atingiu o Vale do Silício, na Califórnia.
Ao lado do esposo e três filhos, ela está na região que é um dos epicentros dos casos de coronavírus nos Estados Unidos, ao lado de Seattle e Nova Iorque.
Nas duas últimas semanas, o número de pessoas contaminadas cresceu de forma vertiginosa e resultou em uma mudança brutal na vida dos cidadãos – como uma ordem inédita do governador da Califórnia, Gavin Novasom, para que a população de 40 milhões de pessoas fique em casa.
Nos EUA, o total de mortes pelo coronavírus no país chegou a 200 até a última quinta-feira (19). O governo prevê que o Covid-19 pode infectar mais da metade da Califórnia dentro de oito semanas.
Valeryana nasceu em Itapira e morou na Avenida Rio Branco. Ainda possui familiares em Itapira – que agora também já convive com o medo e medidas restritivas para tentar frear o avanço do vírus.
“Aqui no Vale do Silício os casos começaram há duas semanas, um aqui, outro ali, mas nada que provocasse muito alarde. De repente, os casos começaram a aumentar de forma muito rápida e agora somos um dos epicentros do coronavírus nos EUA”, conta.
Segundo ela, as escolas pararam, mas o estado possui um sistema bastante eficaz de ‘home school’ – ou ensino doméstico, com boa organização e suporte de materiais. A expectativa é que o ano letivo, que termina em junho, já não seja retomado nas salas de aula.
“Todo o comércio não essencial foi fechado e ninguém pode sair de casa sem uma razão específica e justificada, como para atendimento médico ou para comprar algo essencial. Meu marido trabalha fora, mas há duas semanas também já está em home office. Estamos nos adaptando às mudanças”, disse Valeryana na última sexta-feira (20).
Depois disso, ao longo do último fim de semana, o governo endureceu as medidas, inclusive com aplicação de multas a quem estiver na rua sem motivo justificado. A itapirense afirma que mantém contato diário, via internet, com seus familiares de Itapira.
Valeryana também participa de uma ação voluntária de produção de máscaras de tecido para auxiliar profissionais da área da Saúde em razão da escassez do material no mercado.
“As pessoas também podem fazer isso aí no Brasil. É um momento das pessoas serem mais solidária, se ajudarem, e não de obter vantagens. Percebo que o Brasil tem muita gente que ainda não compreendeu a gravidade da situação, e até por isso aceitei dar essa entrevista. Nada do que está sendo feito é exagero”, disse.
- COLAPSO
Assim como no Brasil e em outros países afetados, o governo americano também prevê colapso no sistema de saúde. Segundo a itapirense que reside na Califórnia, as autoridades foram bem claras em comunicar que o número de pacientes que deverão precisar de respiradores é bem maior que a disponibilidade dos aparelhos.
De acordo com a Society of Critical Care Medicine, uma organização independente que representa membros da área de cuidado urgente, o sistema de saúde americano dispõe de 200 mil ventiladores pulmonares, mas calcula que 960 mil pacientes precisem dos aparelhos em razão da pandemia.
“São bem claros no que dizem e já adiantaram que talvez tenham que escolher quem tratar. Em uma situação em que tenha um idoso de 85 anos e um jovem de 18 precisando do aparelho, vão escolher o mais novo”, afirmou.
Ela lembrou ainda que as autoridades já derrubaram o mito de que somente pessoas mais velhas sentirão os efeitos graves da doença. “Ainda vejo que no Brasil tem muita gente pensando isso. Mas aqui, 40% dos pacientes em estado crítico são jovens, e tem crianças também”.