O aguardado depoimento da vereadora Maísa Fernades (PSD) na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para apurar o conteúdo de conversas gravadas clandestinamente pela parlamentar finalmente aconteceu.
A oitiva foi realizada na manhã da última quarta-feira (6), ocasião em que também foram ouvidos o presidente do Legislativo, vereador Mino Nicolai (MDB), o vereador André Siqueira (MDB) e a vereadora Beth Manoel (MDB).
Durante o depoimento, Maísa chorou e disse que caiu em uma “armadilha” montada por servidor público municipal que seria alinhado a um grupo que faz oposição ao prefeito Toninho Bellini (PSD).
Questionada sobre a identidade do tal servidor, ela se negou a dizer e disse que já passou os dados à Polícia Civil e ao Ministério Público e que agora aguarda que “a justiça seja feita”.
As declarações foram feitas depois que a governista afirmou, como já havia feito em um vídeo publicado nas redes sociais, que de fato fez as gravações escondidas em um momento de crise com o grupo situacionista, do qual faz parte, e cujos trechos passaram a ser divulgados sem seu consentimento em aplicativos de mensagens.
“Uma pessoa me procurou e me orientou a gravar (as conversas) por precaução. Eu fiz essas gravações e depois essa pessoa me procurou novamente pedindo o gravador. Fui na casa dessa pessoa e entreguei o gravador e um pen drive para a esposa dele, e fiquei com ele conversando enquanto ela baixava os arquivos. Eu achei que ela estivesse baixando no meu pen drive e ela me disse que havia apagado tudo e me devolveu o pen drive, que depois descobri que não tinha nada nele”, afirmou.
A vereadora disse que começou a adoecer a partir da divulgação de trechos das conversas e afirmou que há trechos em que foram feitas montagens. “Esses áudios não foram entregues a ninguém e eu tenho certeza que caí em uma armadilha, em uma cilada. Esses áudios foram jogados na internet pelo lado oposicionista. Passei por uma situação que não sabia. Eles mentiram, falaram que tinham passado (as gravações) para o meu pen drive, mas não tinha nada nele, o conteúdo ficou no computador deles. Eu confiei e caí em uma armadilha”, declarou.
Durante a oitiva, Maísa também disse que não procedem as afirmações feitas sobre os colegas governistas mencionados em gravações – André Siqueira (MDB), Mino e Beth, e que tudo foi dito em um “momento de tristeza” e no qual estava “brigada com o grupo”.
“Falei, sim, coisas que não deveria. Já pedi desculpas a eles e peço agora também em público. Não é nada daquilo que falei”. Maísa também disse que desconhece qualquer irregularidades em secretarias da Prefeitura mediante o questionamento motivado por um suposto aparelhamento de pastas municipais, sugerido em uma das conversas gravadas com o servidor público Ronaldo dos Santos Vitório e o presidente do PRD em Itapira, José Vicente da Costa Júnior.
- APURAÇÕES
A comissão é formada somente por vereadores governistas – Luan Rostirolla (PSD), André Siqueira (MDB) e Fábio Galvão dos Santos (PSD) e foi instituída em agosto com objetivo de apurar eventuais infrações cometidas pela parlamentar, bem como investigar o conteúdo das mensagens.
Ainda no depoimento, Maísa Fernandes também disse ter sido “muito usada como vereadora” por pessoas que não imaginava e que também divulgaram conversas que deveriam ser privadas com objetivo de prejudicá-la.
Neste ponto, ela também negou ter utilizado recursos públicos para quitar dívidas pessoais, como o IPVA (Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores), também conforme sugerido em um dos áudios vazados.
- NEGATIVA
Durante a oitiva, André Siqueira se mostrou incomodado com o fato da colega não revelar o nome dos supostos servidores envolvidos e questionou como a CPI poderia convocá-los formalmente sem ter os nomes.
Maísa disse que já enfrenta muitos problemas judiciais e que foi instruída a não falar. “Eu já falei para o delegado e para a promotora, prefiro que a Justiça faça a justiça”, disse. Após o depoimento de Maísa, a CPI ouviu também os vereadores André Siqueira, Beth Manoel e Mino Nicolai.
Todos disseram que não sabiam que estavam sendo gravados e que ficaram surpresos com as divulgações das conversas e, principalmente, pela autoria ter sido de uma colega de bancada.
Mino Nicolai fez questão de destacar que os áudios foram visivelmente editados de acordo com o que chamou de “interesses políticos escusos”. Afirmou ainda que lamenta o ocorrido e espera que a justiça seja feita.
Os membros da Comissão também encaminharam questionamentos ao prefeito Toninho Bellini (PSD) sobre o caso. Nesta quinta-feira (7), às 15h00, a CPI fará a oitiva de José Vicente da Costa Júnior e do servidor Ronaldo dos Santos Vitório.
Na próxima semana o relatório final e o parecer da CPI serão concluídos e apresentados ao plenário. Se o parecer da ‘CPI dos Áudios Vazados’ for pelo arquivamento, o plenário do Legislativo será somente cientificado.
Caso contrário, podem ser adotadas providências como encaminhamento ao Ministério Público, à Prefeitura ou instauração de uma Comissão Processante na Câmara para análise de eventual pedido de cassação do mandato da vereadora.
Os trabalhos da comissão começaram oficialmente no dia 13 de agosto, inicialmente com dois meses para a conclusão. Contudo, após um acidente envolvendo Maísa, a CPI foi prorrogada por mais 30 dias e agora segue até a primeira quinzena de novembro.