O menor indício de chuva já é suficiente para provocar pânico nos moradores e proprietários de estabelecimentos comerciais da Rua Manoel Pereira, na área central de Itapira.
Eles garantem que desde 2009 convivem com constantes alagamentos no trecho a partir do cruzamento com a Rua 15 de Novembro, no sentido bairro-centro.
As cenas de carros encobertos e residências e lojas invadidas pelas águas da chuva lamentavelmente se tornaram frequentes. Inclusive se repetiram na noite de quarta-feira (27), quando um temporal de pouco mais de 40 minutos assolou Itapira.
Mas o que mais incomoda é a falta de uma solução efetiva por parte da Prefeitura de Itapira, que não consegue colocar fim ao martírio que se repete há quase 15 anos.
Situação que obrigou a adoção de algumas medidas preventivas para amenizar tantas perdas, além do desgaste psicológico, como a instalação de barreiras para impedir a entrada da água.
A reportagem do Itapira News esteve no local na tarde de quarta-feira (28), para ouvir moradores e proprietários dos estabelecimentos afetados. Também participaram da entrevista residentes da Rua Presidente Kennedy, na Vila Kennedy, que enfrentam a mesma dificuldade com os alagamentos.
Todos garantiram que o problema foi levado ao conhecimento da administração municipal, mas sem qualquer resposta definitiva. Atestaram ainda a necessidade urgente de obras capazes de desviar para outras galerias as águas pluviais que descem de bairros da parte alta da cidade.
Até mesmo sugeriram como alternativa a construção de ‘piscinões’ nas imediações – reservatórios capazes de acumular a vazão que excede a capacidade de escoamento do córrego que passa debaixo da Manoel Pereira.
Dono de uma loja de materiais esportivos, o comerciante Rodrigo da Costa Vicente lembrou que de outubro do ano passado até o fim da temporada das chuvas em 2023 foram pelo menos seis alagamentos. O estabelecimento fica na esquina da Rua Regente Feijó e por pouco não foi invadido pela água, que parou no último degrau da escada de acesso.
“Tenho a loja aqui nesse ponto desde 1997. Foi a segunda pior enchente, ficando atrás somente daquela de 2009, que foi quando começou o problema aqui na Manoel Pereira”, explicou.
A aposentada Maria de Lourdes Cipoli Sieve reside no imóvel ao lado. “Nasci na casa da esquina e nunca tinha visto encher aqui assim. Agora desde 2009 enche pelo menos duas vezes por ano”, reclamou ela, que já acumulou perdas de móveis e equipamentos em razão de alagamentos anteriores. Tanto que decidiu instalar barreiras no portão de entrada e na porta da cozinha.
- ORIGEM
Os entrevistados suspeitam que a origem do problema esteja ligada a possíveis obras em áreas da região mais alta que circunda a rua, que culminaram por reter ou desviar as águas para a galeria da Manoel Pereira. Chamaram a atenção ainda para os grandes edifícios residenciais erguidos ao entorno.
O que mais preocupa é o fato das soluções colocadas em prática pelo poder público municipal terem se mostrado totalmente ineficientes até agora. Na quarta-feira, uma loja de roupas foi tomada pelas águas e vários produtos se perderam, conforme relatou a funcionária Luara Mara Rampim.
“Desde 2009 estamos em busca de soluções, mas a resposta que recebemos é sempre a mesma: estamos fazendo”, confirmou Rodrigo Vicente. “Inclusive escutamos de pessoas da própria administração municipal que somos um ‘elefante branco’ aqui”, desabafou Maria de Lourdes.
Proprietário de um estacionamento de veículos, Sérgio Luís Zancheta adverte que “é preciso aumentar a galeria que passa por aqui, que já tem 70 ou 80 anos. Antigamente enchia, mas a terra absorvia. Agora é tudo asfaltado em volta. A Manoel Pereira recebe água de várias ruas da parte alta e não tem vazão suficiente. Não adianta fazer bueiros se não tem para onde a água ir. E o que é pior, está indo para um lugar só”, reafirmou.
O Itapira News encaminhou questionamentos à Prefeitura de Itapira sobre as soluções para os frequentes alagamentos na Rua Manoel Pereira.
A Assessoria de Comunicação da administração municipal informou que, de acordo com a Secretaria Municipal de Obras, foi feita uma intervenção na via para bloquear as águas que descem da Rua 24 de Outubro.
‘Contudo, a chuva foi muito forte e atípica, com uma quantidade muito grande de água em poucos minutos, o que torna praticamente impossível que sistemas de drenagens comuns resolvam. Desta forma, a pasta iniciará estudos – inclusive com possibilidade de contratação de empresas especializadas – para elaboração de um projeto mais amplo. Com esses estudos será possível estimar os custos da obra e inserir na previsão orçamentária’.