A feira livre que acontece sempre às quartas-feiras na Rua Sergipe, no Jardim Magali, já foi bem mais movimentada.
Se antes o trecho da via entre as ruas Almirante Barroso e Almirante Tamandaré ficava tomada por dezenas de barracas com as mais diversas opções principalmente de frutas, legumes e verduras, hoje somente um espaço de venda segue ativo no local.
A ‘resistência’ que mantém a feirinha ainda viva está na figura da feirante Sandra Takeuchi, 52, que há mais de 35 anos atua nas feiras livres da cidade com seus deliciosos pastéis e salgados.
Hoje, a Kombi da Sandra é a única ‘barraquinha’ presente no local às quartas, gerando um cenário de nostalgia e certa melancolia diante da perda gradual da tradição das feiras na cidade.
“É realmente triste, sou testemunha de como tudo isso costumava ser movimentado”, lamenta Sandra.
De acordo com ela, a redução da presença dos feirantes foi acontecendo aos poucos, com motivos ligados principalmente ao envelhecimento, adoecimento ou falecimentos dos comerciantes que atuavam na Rua Sergipe e, assim como ela, também circulavam por outras feiras nos bairros da cidade.
Mas a situação se agravou com a pandemia. Antes do surto de coronavírus, além de Sandra a feira de quarta no Jardim Magali ainda mantinham pelo menso mais duas barracas.
Infelizmente, os dois comerciantes faleceram em decorrência de complicações da Covid-19. Mesmo atuando sozinha no espaço atualmente, Sandra mantém uma fiel clientela que não abre mão de tomar um cafezinho e saborear os pastéis e salgados vendidos na Kombi equipada com uma cozinha móvel.
As vendas chegam a gerar filas em alguns momentos, comprovando a qualidade e a tradição do negócio iniciado ao lado de sua sogra, a conhecida e carismática Dona Marta, apelido da comerciante Leiko Takeuchi, famosa pelos pastéis e salgados vendidos no Mercadão e também em algumas feiras pela cidade.
“Muitos clientes começaram a comprar seus pastéis quando eram crianças e, hoje em dia, retornam acompanhados de seus próprios filhos”, conta Sandra, sem conseguir conter a emoção.
Quem não abre mão de passar pelo local é Carlos Quilzini, de 23 anos, que cresceu na região do Jardim Magali e, mesmo tendo se mudado para a região dos Prados, costuma ir toda quarta-feira de manhã para saborear os quitutes que marcaram sua infância.
- TRADIÇÃO
As feiras livres fazem parte da herança cultural da cidade, mas aos poucos o formato popular vem perdendo força. Além dos motivos já mencionados, muitas barracas hoje estão ausentes por fatores que vão desde a concorrência gerada por supermercados até a própria mudança de hábitos de consumo da população.
Em alguns casos, os filhos ou netos também já não se interessam por dar continuidade aos negócios muitas vezes iniciados em lavouras por seus genitores, fator também atribuído à abertura de novas oportunidades de trabalho, muitas vezes até mesmo fora da cidade.
Por enquanto, a feirinha do Jardim Magali resiste a partir da perseverança de Sandra Takeuchi, que também vende seus produtos nas feiras da Vila José Secchi (terça), Santa Cruz (quinta), São Vicente (sexta), Boa Esperança (sábado) e na Feira de Domingo do Mercadão, atualmente alocada na antiga Estaçãpo da Fepasa.